A chuva estava forte aquela noite, mas isso nada mudava o andar calmo de Furlan, gostava da chuva, e a muito tempo não temia mais os rais e trovôes das tempestades. Seu principal prazer era a ajuda que a água caindo e escorrendo em si trazia para seus pensamentos, cobrindo-lhe com um sentimento de paz e imensidão. E hoje em especial havia muita coisa em sa cabeça.
Mas neste momento estava se preocupando mais com o fato d que provavelmente o pub estaria vazio, afinal quem iria sair num tempo desse? Até mesmo a frequesia fiel de todos os dias falhava quando o clima estava assim.
Chegou à entrada do Cognitio Derelictum e foi saudado com a formalidade de sempre.
- Boa noite, Sr. Furlan.
- Já é hora de parar com esse 'senhor' Luigi...
- Sim, senhor.
Furlan olhou para o segurança e abriu um largo sorriso, gostava de Luigi, era confiável, mas as suas maneiras acabavam mais sendo motivo de graça ultimamente.
- Certo então, mas não precisa abrir a porta, vou entrar pelos fundo hoje.
Luigi olhou para suas roupas encharcadas, claramente pensando no porquê de seu chefe não ter usado um guarda-chuva ou então pego um taxi.
Furlan entrou pela porta localizada no final do corredor ao lado do seu pub, ali ficava o depósito geral, e logo após estava o vestiário masculino onde ele raramente ia, mas sempre deixava algumas mudas de roupa para o caso de uma emegência. Colocou uma calça jeans, uma camiseta preta e um sobretudo de couro preto opaco. Logo após foi para dentro do pub.
Parou por um momento olhando o movimento lá dentro, estava quase lotado, com várias mesas movidas e formando grandes grupos. Deu um sorriso de lado e riu para si mesmo, logo após foi para o bar.
- Olá Raul.
- Olá Karl.
- Surpreso com o movimento?
- Sim, mas de uma forma agradavel. Parecem grupos grandes, sabe quem são?
- Hum, se não me engano é um grupo de estudantes em intercâmbio, parece que já tinham ouvido falar de nós e resolveram conferir.
- Hahaha, isso me parece trabalho do seu irmão, mas me diga Egon está por aqui?
- Hoje não, comprou trufas a peso de ouro no mercado pela manhã e acabou ficando o dia todo trabalhando nos seus projetos gastronomicos com elas.
- Bem pelo menos esta fazendo algo construtivo...
- ...
- eu acho...
- Hahahaha
- Hahaha, essa foi ótima, não foi?
- Egon realmente não combina com a frase 'fazendo algo construtivo'. Geralmente seus acertos são sem querer.
- É verdade... Bem, me dê um café preto que eu quero ir me sentar e descansar as minhas pernas.
- Certo, é pra já. A propósito uma moça largou um curriculo aqui mais cedo, quer dar uma olhada?
- Hum, claro, é sempre bom ver sangue novo e feminino por aqui.
- Haha, claro, aqui está, e o café também. Aliás, a garota é aquela sentada sozinha na mesa ao lado da sua, e olhando daqui até me lembra você parado e lendo seus livros.
- Nossa, você realmente acha que pareço tão sexy assim Raul? Você nunca disse isso antes.
- Ah, vá se catar Furlan, você entendeu o que eu quis dizer.
- Haha, calma, eu entendi sim, hehe, mas não resisti a piada.
- Gozador, se manda que eu tenho trabalho a fazer...
Furlan foi para o seu lugar habitual rindo para si mesmo, sentou e tomou um belo gole do seu café. Logo após pegou o cúrriculo e começou a lê-lo, parecia mais uma descrição da personalidade da garota do que qualquer outra coisa:
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Agatha Treville Montjean
Sou uma sonhadora, e vou atrás dos meus sonhos. Gosto de ler, ouvir musica antiga, cantarolar sozinha, dançar. Não me importo muito com o que os outros pensam sobre o que eu faço, apenas sou eu mesma sempre. Sou espontânea, criativa e dedica quando faço aquilo que gosto.
Mas isso não é nada, não se deve julgar um livro pela sinopse.
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Furlan lentamente levantou seus olhos do papel e olhou para a garota, e percebeu que ela o fitava ansiosamente. Ele então voltou o olhar para o papel, o amassou e jogou-o no lixo.
Agatha viu a cena e então com uma expressão que misturava raiva e derrota fechou o livro que estava lendo, largou-o na mesa, e começou a levantar-se. Foi então que ela viu que Furlan estava se sentando na cadeira ao seu lado.
- Também não gosto de sinopses, gostaria de conhecer o livro pessoalmente.
Demorou alguns segundos para Agatha compreender o que estava acontecendo, então seus olhos encharcaram-se e então abriu um lindo sorriso. Era um sorriso contagiante, e fez com que Furlan sorrisse também.
- Ah, olá... Meu nome é Agatha...
- É um bom nome para uma protagonista.
Agatha sorriu timidamente ao ouvir isso, e novamente Furlan seguiu o sorriso.
- Bem no que você pretende trabalhar aqui Agatha?
- Em qualquer coisa.
Ele levantou uma sobrancelha e fitou ela por algum tempo.
- Não se importa com o que seja?
- Não, já ouvi falar sobre o senhor, e sei que seja o que for não será nada desonroso.
- Hum...
Furlan abaixou os olhos e ficou a fitar o nada por um instante.
- Certo, mas acho que você conseguiria um bom emprego em outros lugares, por que exatamente aqui?
- Não sei, gosto do ambiente, tudo aqui me atrai.
- Hum, e como sabia que eu não daria-lhe um trabalho "desonroso"?
- Isso é porque eu já havia vindo aqui antes, e ouvi algumas vezes outras mulheres perguntando ao barman ou a outro funcionário sobre você, todas bem interessadas. E eles sempre respondiam que o Sr. é um homem sério, e não gosta de nada sem compromisso, que preza os valores antigos e mantém sempre uma atitude digna.
- É já fiquei sabendo de casos assim pelos meus empregados e pelo Beneddeto também. Mais alguma coisa que a fez escolher este lugar?
- Você.
- Como assim?
- Ora pelo que eu acabei de falar, e também, que outro chefe após ler aquilo que eu escrevi tomaria uma atitude como a sua?
- Entendo...
- E então? Contratada?
- Em período de teste...
Agatha abriu um largo sorriso, e Furlan apesar de tentar evitar não conseguiu ficar sem sorrir também.
- Ótimo, muito obrigada, vou fazer por merecer.
- Assim espero, pode começar amanhã mesmo. Esteja aqui às 19:30.
- Certo.
Ela começou a arrumar as suas coisas e começou a se levantar.
- Ãh, você não quer ao menos saber o que vai fazer?
Ela olhou confusa para ele, então sacudiu a cabeça e deu uma leve palmada em sua testa, sempre sorrindo.
- Claro, desculpa a distração.
- Haha, sem problema, bem você irá recepcionar os fregueses, e também cuidar da organização dos livros, por enquanto é só, acha que da conta?
- Sim, senhor.
- Hum só mais uma coisa.
- O que?
- Me chame de Furlan apenas.