quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O violinista

Lá foi ele com seu violino pelo metrô.
As pessoas o observavam, preconceituosas, mas não discriminadamente. Simplismente não estavam acostumadas a ver alguém com um violino, mesmo que dentro da caixa, cabelo presos de uma maneira que ficavam ainda soltos, calça jeans, camiseta básica, suspensórios.

Desceu na estação Mercado, e então dirigiu-se até a Casa de Cultura. Cumprimentou alguns
rostos conhecidos pelo caminho.
Aquele não era um bom dia, nem aquela semana, ou aquele mês, no seu pensamento, ele não
conseguia se lembrar da última vez em que realmente tivesse se sentido verdadeiramente livre daquela melancolia que lhe cobria o coração.

Chegou ao local, passou os olhos pela cinemateca. Lá viu, ela estava lá, uma velha e boa amiga, já haviam tido até um caso por algum tempo, mas a familía atrapalhou e muito mais do que devia, ambos sabiam que foi melhor naquele momento manter apenas a amizade. Ela não o viu naquele momento.


Subiu até uma das passagens entre os dois prédios da Casa de Cultura. Retirou o violino da caixa, afinou suas cordas, lentamente e apreciando o momento, deslizou o breu pelo arco. Fez alguns acordes iniciais e então começou a tocar.

Era uma música lúguebre, soturna, mórbida, porém lindamente composta, parecia que até
mesmo o ar parava e se tornava mais pesado diante de tal maravilha. Até mesmo os pássaros pararam o seu canto. Em algum lugar, uma lágrima rolou.
O seu corpo acompanhava a música, movendo-se lentamente, porém combinando com o ritmo por ele mesmo produzido. Olhos fechados, a atenção e o sentimento voltados apenas para o instrumento.


Ele abre os olhos, ela está lá, na sua frente.
Surpreendeu-se, mas não parou a música, que fora tornando-se mais suave, ela sorri, ele a
acompanha. Ele fecha os olhos novamente, ainda sorrindo.
A música transforma-se radical e brandamente, o tétrico soneto se tornava em um encantador minueto. A atmosfera ao seu redor acompanhou a mudança, o ar, os pássaros, parecia haver tudo ganhado vida devido ao simples sonido vindo do intrumento. Em algum lugar, um sorriso se abriu
e um olhar fitou o céu.


Ficou assim por algum tempo, depois parou. E então ficaram os dois, ali, durante uma breve
eternidade, falando sobre a vida.
Ele foi embora, naquelas viagens bem chatas de volta. Mas sorria, e para
seu próprio espanto, sorria sinceramente.

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Acordar

Uma alma espreguiça.
Abre os olhos.
- O que este corpo andou fazendo sem mim?

Começou a conferir mundanidade do seu próprio corpo no último ano, suspirou, havia muita coisa o que arrumar.
Almas não deviam tirar férias.

Sendo assim, aqui estamos, renovando o recanto para 2010.
Nem sei muito o que mudar ainda, mas minha alma se sente mais liberta aqui, este lugar trás [suspiro] muitas lembraças.

E é véspera de Natal, aproveite o presente.